quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Capítulo III (parte 5)


Depois do meu almoço na cama(claro que eu podia andar e me alimentar sozinha, mamãe as vezes exagera), eu comecei a ficar com tédio, a Gil evitava encontros com a mamãe, então não estava indo lá em casa com a frequência costumeira.
Comecei a folhear então os livrinhos que o Ewerton me deu. Em mais ou menos duas horas, eu lia a última página do primeiro livro, e estava ansiosa pra ler mais sobre a história de Alice London, uma jovem de 17 anos que sonha em ser florista, e está confusa com o amor.
Pareceu-me uma história tão...próxima, tão pessoal, tão minha...era isso que parecia, ela escrevia como eu, sentia como eu, parecia...que ela, de certa forma, combinava comigo. Fiquei curiosa a respeito da tal autora, como poderiamos pensar tão parecido? Então joguei, apenas pra testar, o nome Alice L. no Google. Milhares de resultados, como já era de se esperar, então pensei em um jeito de restrigir minha busca ao que realmente queria, joguei Alice L. + branco e rôxo. Voilá. Haviam vários resultados, não só sobre a trilogia, mas também sobre outras obras da autora, mas não havia nada, absolutamente nada que me dissesse mais sobre sua vida pessoal, de onde era, onde morava, que aparencia tinha, havia apenas um email de contato, em nome de Alice london.
Escrevi um email pra ela, não resisti a tentação.

"Cara Alice London,
(se é que é mesmo seu nome)
Estou lhe escrevendo não exatamente com o intuito de que me revele sua identidade, ou coisa parecida, pois pelo que notei, você não aprecia muito contato com os leitores, mas sim porque sou estudante de jornalismo, e gostaria de fazer uma entrevista, mesmo que fosse virtual, com você, para falar sobre seus trabalhos e expôr um pouco mais o seu conteúdo.
Estou lhe escrevendo não só como profissional, mas também como grande admiradora do seu trabalho.
Atenciosamente.
Camila Vaz Rodrigues."

Era mentira! Eu sei, foi golpe baixo tentar mexer com o psicológico a menina, fazer ela se sentir importante, e coisa e tal, mas afinal eu nem sabia se meu plano de tentar uma aproximação iria funcionar.
Na semana que se seguiu eu li quase toda a obra da tal Alice London, eu desde criança leio um livro inteiro em uma tarde, então foi bem fácil pra mim, todas as noites eu conferia minha caixa de emails, onde sempre encontrava as mesmas porpagandas, piadas de listas virtuais, e pps's, mas nunca uma resposta da Alice.
Quando a semana acabou, junto com ela foram a pneumonia, a mamãe na minha casa, e meus dias de folga.
Passei o final de semana em casa com a Gil, e brigamos por qualquer motivo o final de semana inteiro.
Na segunda feira, voltei ao trabalho normal e quando cheguei em minha mesa, tive uma surpresa agradável; um buquê de lírios azuis, com um cartãozinho dourado. "-Essa Dona Irene não desiste mesmo!" Pensei comigo mesma enquanto pegava o cartãozinho delicado entre os dedos.
-Quem deixou isso, Kézia? -perguntei à minha colega da mesa ao lado.
-Não sei, Mila, quando cheguei isso já estava aí, deve ser da tua "marida" certo?
-Huum...não sei...
Duvidava muito, Gil não andava mais muito romântica. Abri o cartão e fiquei lá, parada, com cara de besta quando terminei de ler. Eis o conteúdo:

Camila Rodrigues,
Fico muito feliz em saber que você se recuperou bem, e mais ainda em saber que aprecia meu trabalho, não sei se posso lhe conceder a tal entrevista, mas posso lhe conceder o meu msn: alice-london@hotmail.com
Alice.

Eu tinha conciencia do meu sorriso abestalhado naquele momento, mas é que simplesmente não conseguia tira-lo do rosto. A única pessoa que eu achava poder me compreender perfeitamente, uma pessoa que pra mim não passava de um pseudônimo fantasioso, poderia ser uma velha desdentada, ou uma modelo, tanto fazia, ela estava ali, estava comigo! Ela tinha me respondido pessoalmente, ela tinha me enviado flores, ela...
Foi aí que o sorriso abestalhado se foi. Ela tinha me enviado flores? Ela tinha me enviado flores pro meu trabalho? Ela tinha me enviado flores pro meu trabalho dizendo que ficara feliz com a minha melhora? Como? Como ela sabia?
Ok que eu coloquei meu nome no email, mas...tem milhares de "Camilas Rodrigues" no Brasil e no mundo! Como ela poderia me achar e ainda mais em uma cidade tão atrasada? Seria pelo email? Pouco provável, não enviei o email a ela pelo meu email de trabalho, e sim pelo pessoal. Tudo isso estava muito estranho, era só o que eu sabia.
Levei as flores pra casa debaixo dos olhares ciumentos de Irene, coloquei-as em um vaso e fui tomar banho.
Demorei mais do que deveria pra sair do banho, e saí como sempre em cima da hora, a Gil tinha me dito que precisava estudar pra uma prova, e que não poderia ir dormir em minah casa naquela noite, eu não achei tão ruim, precisava também recuperar matérias que perdi por causa da pneumonia.
Entrei no elevador de serviço do prédio, porque este dava acesso a garagem então geralmente era o que eu usava, o elevador desceu do décimo terceiro que era o meu andar, e parou no décimo segundo, as portas se abriram.
A moça que embarcou era como um anjo, aos meus olhos, era magra, alta, cabelos muito lisos, pretos e longos, olhos em alguma tonalidade entre o cinza e o azul, que me faziam lembrar os olhos cintilantes cor de piscina que pertenciam a Gil, e assim como a Gil, ela tinha os lábios naturalmente vermelhos, como se usasse batom o tempo todo, mas seus lábios eram pequenos e delicados. Ela usava uma camiseta preta, sem mangas, com uns desenhos abstratos em rosa choque, e uma calça jeans que desenhava no corpo. Reconheci nela a namorada de um conhecido meu de meus tempos de teatro, eu fazia teatro quando tinha mais tempo, apenas como hobbie, não como profissão, e esse carinha estudava no colégio que ensaiavamos, a namorada dele e eu na época trocavamos olhares discretos, nada muito sério, mas lembro de ter tido vários pensamentos canalhas com ela, e agora via ali a mesma moça, ou uma cópia idêntica dela, tão parecida que não resisti em perguntar, ela também ficara me olhando desde que entrara no elevador, como se quisesse reconhecer, e até sorriu pra mim.
-Boa noite...-falei a princípio em tom formal, e ela sorriu mais abertamente.
-Boa noite, Camila Rodrigues.-Ela respondeu, me provocando.
-Então já nos conhecemos mesmo, não eram só minhas expeculações...-sorri de volta.
-Não, não eram, eu sou quem você está pensando.
-Amanda, certo? Era namorada do Ícaro...
-Era não, estamos noivos.
Confesso que fiquei meio decepcionada ao ouvir isto, não sei porque.
-Ah sim, olha que legal! Parabéns! -eu tinha que disfarçar. -como ele está?
-Vai bem, trabalhando em uma loja, gerente de lá.
-Nossa! Que legal! E...você mora aqui?
-Mudei a pouco tempo, já tinha visto você e sua namorada na garagem antes, mas achei melhor não ir falar assim, do nada.
-Ora Amanda, que bobagem! Nos conhecemos a tanto tempo!
-É, mas nunca tivemos um diálogo de mais de três frases, se você reparar...
-Nunca mesmo, mas agora que somos vizinhas podemos nos conhecer melhor, certo? -Fiz meu tom de voz informal mais charmoso.
-Certo, claro, naquela época eu tinha mesmo vontade de te conhecer melhor...bem melhor.
Fiquei assustada, e por alguma razão, meu coração disparou.
-Ahn...como assim? -Fiquei sem graça, e sabia que meu rosto estava vermelho e queimando.
-Ora, eu te achava gatinha, só nunca tive coragem de te dizer isso.
Para o mundo! A garota que eu cobiçava e invejava do meu colega, que eu achei que nunca daria bola pra uma nerd magrela na vida, apesar de nossas trocas de olhares, estava ali, anos depois, praticamente me dizendo que já foi afim de mim? Aquilo era muita areia pro meu caminhãozinho, mas neste caso, sempre pode-se fazer mais de uma viagem.
-Eu também te achava...-foi só o que consegui responder, totalmente pasma.
-E não acha mais? -Ela sorriu dentes brancos e perfeitos, me deu um beijo no rosto e saiu do elevador, que acabara de chegar ao seu destino.-Que pena...-a ouvi dizer por último, abandonando a mim e ao meu choque.
-Ai, morri!-sussurrei rindo, ainda pasma, encostando boba na parede do elevador, com a mão no peito, quando as portas se fecharam.

2 comentários:

Anônimo disse...

¬¬
conheço algo similar...


=]

disse...

aaah que capitulo interessante.