sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Capítulo I (parte 3)


Passei direto, e agradeci a mim mesma por ter sido a única idiota a comprar um carro novo antes de Janeiro, sem esperar os lançamentos do ano seguinte, pelo menos assim eu poderia passar batida pela casa da vovó, e eles não reconheceriam o carro. Genial.

A Gil odiava andar na minha Land Rover. Costumava dizer que todas as vezes que saíamos nela, parecia que íamos "pegar estrada". Estranho uma garota que adora carros grandes dizer isto. Ela ainda não tinha idade pra dirigir, mas costumava dizer que quando pudesse fazer isto, iria pedir uma pick up cabine dupla ao pai, sinceramente, não vejo muita diferença. O que realmente foi relevante, não foi o fato de que a Gil entrou "com tudo" pela porta do meu novo carro, segundos depois que dei o toque pro celular dela avisando que já estava lá na frente, parecendo nem perceber a diferença entre uma Land Rover e um Audi. Foi o sorriso dela ao me ver ali, para tirá-la do famoso e chato natal familiar. Parece bobo, mas isto sim, valia a pena.

O céu da noite estava limpo, azul, cheio de estrelas. Guiei o carro pensando algo sobre os reis magos ou coisa assim, com a Gil "pendurada" ao celular do meu lado por alguns quarteirões, ele tocara assim que ela me deu um beijo de reencontro na frente da casa dela, e pela conversa eu entendi que era a Brenda do outro lado da linha, uma amiga nossa, mais dela do que minha, que tem uma banda de garagem que até faz um certo sucesso nos bares e Pubs nos quais tocam, eu gosto da Brenda, mas elas tem uma amizade de "moleque" qua as vezes me incomoda, parecem dois caras malandros falando de mulher e de rock, e se chamando de "viadinho" quando se encontram, então elas se chamam de "meu brother" e dão aquele "tapinha" nas costas, é como se a Brenda fosse aquele cara pegador de final de semana que leva o amigo casado pro mau caminho. As vezes é engraçado, mas as vezes me irrita, só que, até aquele momento, não estava me irritando. Gil desligou o celular e nem me esperou perguntar nada.

-amor, a Brenda tá "pegando" a Vanessa, aquela doida que era afim de mim e de ti a um tempo atrás, a que namorou com a Paula, minha ex, elas vão se encontrar no Aminésia Pub, e ela queria saber se não dava pra gente ir pegar ela lá naquele posto de gasolina da praça Amazonas, aí a gente pode fumar alguma coisa, beber alguma coisa, e "se jogar" na balada...o que tu achas?

Então ela fez aquela cara cínica, a cara que eu compreendo muito bem quando ela faz , porque quando ela faz esta cara, quer dizer: "amor, eu sei que tu não queres fazer isso, mas eu estou aqui, com cara de 'cachorrinho pidão' te pedindo algo que eu quero, e se tu disseres não, ou ficar resmungando, eu vou ficar insuportável e fazer de tudo pra estragar a noite...então? O que tu preferes?"

É incrível como tudo isso cabe em uma cara cínica com um meio-sorriso, e diante desta cena prevista, só tive uma resposta.

-Tudo bem amor, vamos buscar a Brenda.

Ótimo.

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